Língua, uso e discurso: Entremeios e Fronteiras

Descrição

Durante muito tempo, atrevo-me a dizer que estivemos trabalhando a língua, as situações de linguagem, de forma quase “estática”, enfatizando somente um aspecto da língua: o aspecto formal ou a forma de prestígio, como hoje é denominada essa formalidade da língua. Essa denominação, na verdade, parece ser a mais adequada, já que a referida forma é extremamente considerada e serve como determinante de um “bom falar” e de “saber se comunicar”.Será que é assim? Diversas atividades nos mostram a língua sendo utilizada de forma extremamente versátil, não só em relação a vocabulário específico e à forma de falar de cada região mas também em relação às situações com as quais nos deparamos.

Bem, estamos falando de atividades de linguagem que, como tais, pressupõem a existência de “sujeitos” para se efetivarem. Logo, estamos falando de interações sociais, troca de mensagens, e os sujeitos que atuam nesses cenários são diferentes, porque têm formações diferentes, histórias diferentes, experiências diferentes. Isso nos dá enormes possibilidades de trocarmos mensagens de várias maneiras, o que não significa que, necessariamente, teremos comunicações superiores a outras. Claro que podemos, sim, ter comunicações mais claras, mais organizadas que outras.

Na busca de melhor entendimento dessa questão, diria que a consciência da necessidade de adequação das mensagens funciona como fator de fundamental importância para o bom andamento da interação. Melhor dizendo, cada situação necessita de adequação da linguagem, o que inclui formalidade, informalidade e semiformalidade. Essa imagem fica mais clara quando falamos de festas: algumas exigem roupas a rigor, outras, como festas ou reuniões com amigos, jantares ou almoços com familiares, por exemplo, permitem roupas e cores diferentes. Enfim, para cada situação, concordamos que há uma vestimenta adequada. Pois bem, o mesmo se dá com a organização de nosso discurso, de modo que adquirir o aspecto formal da língua também faz parte das habilidades do falante.

Dito isso, podemos anunciar o objetivo deste livro: focalizar a linguagem em movimento, dando ênfase à formalidade e à semiformalidade através de várias possibilidades de organização do discurso e práticas textuais, sem desconsiderar o potencial linguístico de cada um. Mas como fazer isso? Trabalhando com a habilidade de leitura e a produção escrita, refletindo sobre a relação dos elementos que compõem o texto, pois este é tomado como ponto de partida por ser lugar de interação, de interpretação e produção de mensagens, onde há produção de sentido. Entendemos que trabalhar atividades de linguagem focalizando a língua em movimento potencializará as habilidades dos leitores, enfatizará um comportamento maduro em relação ao uso linguístico, podendo, com isso, auxiliar na tarefa de desfazer preconceitos e alargar a noção de língua — algo muito maior que, essencialmente, as regras gramaticais. Estas, juntamente com contextos socioculturais que integram a noção de mundo de cada um, constituem esse fenômeno que possibilita diversas formas de comunicação. Celebramos, juntamente com os autores que fizeram parte do início dessa conquista, o nascimento de um livro que pretende conduzir à reflexão de assuntos urgentes em termos de linguagem, mesmo considerando que alguns assuntos ou conceitos, pela própria dificuldade de tratamento que trazem, não são muito acessíveis. Se a “leveza” com que pretendemos tratar tais assuntos for percebida e digerida por você, teremos dado um grande passo.

– Rosaura de Barros Baião

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